8ª QUADRA - SETEMBRO DE 2003


O COMBATE
Autor: Luiz Lopes de Souza
Intérprete: Paulo Ricardo dos Santos
Amadrinhador: Rodrigo Cavalheiro

Um sol solene e longínquo
se fez lume da ribalta
no palco do barbarismo...

... uma bandeira de guerra
tremulava em vivas cores,
nos olhos abrasadores
dos bravos da mesma terra...!

Peleavam, pelo instinto
de gladiadores terrunhos
que, às vezes sequer sabiam,
a razão por que peleavam
e a razão porque morriam...!

Ocultos na fúria cega
uma horda em levantina,
espreitava o inimigo
ansiando a carnificina,
qual famulento animal
forjando a gula felina
no fio da garra cerval...!

Ao retumbarem clarins
em sonatas legendárias,
é como se o céu e a terra
submergissem no abismo
de procelas milenárias,
indefensos ao terror
de carrancas sanguinárias...!

Se chocam iras ingentes
de ciclones oponentes
em nefastas colisões,
como gigantes das trevas
urgindo o furor das guerras
na matraca dos trovões...!

... lanças ágeis enristadas...!
... pernas férreas estribadas
atufando loucamente
na voragem do embate...!
... em cargas bruscas de ferros

espadanam as adagas
carniceiras e atrozes,
que são frias e mortais
em mãos carrascas e algozes...!

... esquivam corpos e fletes,
se dispersam..., se aglomeram
num duelo horripilante
de carnes, ossos e aço!
... no revide convulsivo
de sangrento fanatismo,
morrem mártires de si
num utópico heroísmo!

... em volto a brados, gemidos,
degolados, esvaídos,
cresce o ódioinextinguível
e o instinto animalesco
com sede horrenda de sangue
e insana veemência,
de um genocídio de guapos
nas coxilhas da querência..!

A tarde como em pesar
calando o clamor das turbas,
deixou que caísse o pano
no palco do barbarismo...

O sol se pôs de vagar
com seu lume rutilante,
dando um remoto sombreado
sobre o combate distante,
onde ainda os indomáveis
no auge da rebeldia,
peleavam por atavismo
e morriam por valentia!

Perdida sobre a coxilha
entremeada aos jazentes,
uma bandeira em farrapos
tremulava numa lança
prestes a ir com o vento.
Já não espargia cores...
num voluntário tributo
como a noite se fez negra...
- A Pampa estava de luto!!!


UM VIOLINO EM SIBEMOL
Autor:Pedro Darci de Oliveira
Intérprete: Joel Capeletti
Amadrinhador: Violão - Henrique Scholz
Violino: Igor de Macedo

Na ruazinha do meu bairro
Quase em frente a minha casa,
As lembranças criavam asas
Quando um violino tocava,
Porque de manso embalava
Sonhos que não voltam mais,
Momentos angelicais,
Que minha alma guardava.

Era um remanso na águas,
Mas eu viajava com elas,
Como um barco solto às velas
Com medo do sol se pôr.
Me postava ao criador
Porque a graça recebida,
Era a suprema guarida
Do mundo de um sonhador.

As notas eram melancólicas,
Suaves, tristes, muito calmas,
Armonizavam minha alma
Num acalanto divino.
O vento assobiava fino
Em seu cantar de improviso,
Colocando o paraíso
Dentro daquele violino.

Me parecia um chamado,
Vindo talvez... de outro mundo,
Que transformava os segundos...
Em tempos de eternidade.
Aquela estranha ansiedade
Era meu próprio arrebol,
E o canto de um rouxinol
Me traduzia.... “Saudade”.

O musico, era um moço,
De sorriso refinado,
Qual um nobre em seu reinado...
Com traços vivos no olhar...
Quando se põe a tocar

Em seu trono sobre rodas,
É como quem dita a moda...
Fazendo o mundo cantar.

Bailam as folhas no vento
As borboletas festejam
Os grilos todos solfejam
A partitura de um hino.
E o moço do violino
Mareja o olhar celeste
Quando a brisa o reveste
Num sorriso de menino

Não nascera diferente
Foi guri igual aos outros,
Montava o lombo dos potros
Na euforia de vencer...
Rodou...e sem mesmo saber...
Perdeu bem mais que a carreira.
Hoje na sua cadeira
Busca forças pra viver.

Talvez não sirva de exemplo
Porque a vida é mesquinha,
E a dobra de sua espinha
Foi uma esperança rompida.
Mas Deus é pai e age certo
E este era o seu destino,
Nas azas deste violino
Buscar razões para vida.

“Só Deus é um espirito puro”.
Os homens são imperfeitos...
É torto o lado direito
Na fisga de um anzol...
Mais lindo que o Por do sol
É um sentimento profundo...
De paz... Fluido do mundo...
“Num violino em Si Bemol”.

A MOÇA DOS OLHOS BRANCOS
Autor: Carlos Omar Villela Gomes
Intérprete - Anderson T. Cardoso
Amadrinhador: Geraldo Trindade

Não sei se vem de longe este desejo
Que me faz navegar tantos mates...
Um beijo doce transborda
No manto azul dos meus sonhos,
Onde palpitam luzeiros, pequeninos,
delicados,
Que bordam esse semblante nestes
meus olhos cansados,
Nestes meus olhos perdidos no
encanto dos seus Jaraus.

Não sei se vem de longe esta ternura
Que é pele e brisa acarinhando a vida...
Acarinhando nossa despedida
Juntinho a uma porteira solitária
Que emoldura a frente do seu lar.

Da porteira ela acenava, linda,
Plena de sonhos e consolações ...
Vestido simples de moça do campo,
Sorriso simples de moça do campo
E a paz mais pura nos seus olhos
brancos,
Nuvens macias, onde habitam anjos
E as esperanças do meu coração.

Seus olhos não alcançam luas,
Mas são luar em minhas noites
mornas...
Não alcançam aves que revoam céus
Mas são os céus onde o amor revoa...
Brancos, seus olhos são fundões de
pampa

Onde o verde não ousou chegar.
Da porteira, desafia o mundo,
Que lhe nega a vista, que lhe nega
o céu...

Encontra o canto de um sabiá faceiro,
O mugir do gado, um relincho ao longe
De um potrinho guapo, que
recém nasceu.

Moça de olhos brancos, dos meus sonhos alvos,
Quando chego pleno de violão e entrega,
Sente minhas canções, que vem falar de amor.
Sente a mão do vento deslizar no rosto,
E fazer dançar o seu vestido novo
Que adora tanto, mas nem sabe a cor...

Percebo então, num instante, no seu sorriso de aurora,
Nos seus gestos silenciosos de doçura e algodão...
Percebo em cada palavra de quem convive com as sombras,
Com as trevas que se ocultam atrás dos seus olhos brancos,
Que a vida é benção divina e que nas voltas do mundo
Pra quem tem luzes na alma não existe escuridão.

Meu peito vira galope nos rumos da benquerença...
Vou buscar uma porteira, onde uma moça faceira,
Cheia de sonho e de vida, por certo está a me esperar;
Ouvirá logo de longe, uma coplita saudosa...
Levo um amor, que se curva aos pés da “flor” mais formosa,
E este botão de rosa, bem da cor do seu olhar!!


MONÓLOGO DO PEÃO SOLITO

Autor: Vaine Darde
Intérprete: Dorval Delgado Dias
Amadrinhador: Paulo Melão

O dia se foi mais cedo
E a noite chegou na tarde.
Sem pôr-do-sol, na campanha,
Apenas escureceu...
E um temporal redomão
Se veio fazendo alarde,
Batendo bombo nas nuvens
Num desnorteado escarcéu.

Eu, já de mate cevado,
Fechei um baio dos buenos
E, sozinho no galpão,
Sem temer qualquer perigo,
Fiquei cismando comigo
Nesse momento infinito
Que torna homem pequeno.

La puxa! E veio do Norte
Um aguaceiro turuna
Riscando adagas de fogo,
Desebainhando punhais,
Com raios rasgando rumos,
Timbrando sangas noturnas ,
Sangrando a quincha tapera
Com goteiras musicais.

E eu, comigo, em silêncio,
Olhos voltados pra dentro,
Proseando palavras mudas
Pra enganar a solidão.
É assim que me agüento...
Pois pior que todo vento
É uma chuva de saudade
Que me invade o coração.

Bato um tição macanudo,
Dou uma encilhada no mate
E rolo a palha entre os dedos
Pra municiar outro pito.
A solidão redomona
Vem povoar o meu aparte
Iluminando a lembrança
Com um par de olhos bonitos.

Que china linda e malvada
Que há muito se fez ausente
Pra buscar num mundo alheio
O que o campo não lhe deu.
Dessas que vão e que ficam...
E fingem estar chegando
Quando estão dizendo adeus.

Nunca mais dormi no catre,
Vim me arranchar no galpão.
Pois mesmo o homem mais qüera
Se ajoelha e cai vencido
Com a solidão de tapera
Morando no coração.

( E um vento triste, lá fora, vai dedilhando milonga nas folhas das casuarinas)

Que potro maula, algum dia,
Me causou tanto desgosto?
Não recordo alguma tropa
Que me fosse tão sofrida...
Eis que uma prenda franzina,
Trazendo aurora nas crinas
E os olhos cheios de céu,
Me abandona no sol posto,
Depois de me dar o gosto
Dos lábio doces de mel.

Quando o amor vai embora
Nada mais nos dá alento;
A gente vive por fora
Mas fica morto por dentro. -

E o pampa não espera
Por esses males de amor,
Não nos dispensa da lida:
Há cercas a remendar,
Há potros pra quebrar queixo,
Há que semear primaveras.
Pois a vida segue em frente
E não há lugar no campo
Para quem se desespera...

E, bueno...Vou preparar as esporas
Que amanhecer não demora
E um malacara me espera...
E se tratando de doma
A fraqueza não me toma,
Monto o potro que vier.
Só uma coisa não se explica:
Como é que um homem se achica
Pelo amor de uma mulher? (E um vento triste, lá fora,
vai dedilhando milonga nas folhas
das casuarinas.)

A pior das solidões
É essa que o amor impõe,
A mais sofrida e tamanha.
Pois nada inspira mais dó
Do que um peão vivendo só
Nos canfundós da campanha.

Eu me canso de mim mesmo,
De ficar proseando a esmo,
Mas tenho vivido assim...
Com essa china atrevida
Que se soltou pela vida
Porém, me prendeu em mim.

Meus olhos de andar no campo
Se acendem de pirilampos
Se uma esperança me chega...
E sonho em rever a lua,
Passeando na pele nua,
No corpo dessa galega.

Em um tímido arrebol
Surge uma nesga de sol
Por entre as nuvens vencidas.
E percebo que a tristeza
Não é maior que a beleza
De qualquer resto de vida...

Agora o canto do galo
Diz pra encilhar o cavalo
Porque o dia já vem.
E hora de ir pra lida
E seguir tocando a vida
Com a sorte que a gente tem.

Quando nada nos socorre
A gente pensa que morre
Mas vive cheio de dor.
E, embora a dor seja infinda,
Mesmo a chinoca mais linda
Não mata um taura de amor!

Almas Antigas
Autor: Joarez Fialho
Intérprete: Carlos Aurélio Weber
Amadrinhador: Fernando Graciola

Quando o ventito afiado farfalhar
As folhas do umbu guardião. . .
Quando o ronco sonoro do mate novo
Ecoar neste chão. . .
Quando o pingo ruano
Escarcear inquieto pedindo ração. . .
Eu encharco a alma com a fumaça
Branda do fogo de chão!

Ah! . . . guerreiros antigos. . .
Que vieram de longe chegando no
agora,
Com gastas esporas e sonhos
desnudos
De tanto “pelear”.
Nesse andejar de léguas compridas
E, incuráveis feridas, herdadas
da vida
Que se arrancharam cingidas
Na tela do olhar!

Aquela gana louca de sofrenar
o mundo. . .
De manear o tempo!
Aqueles pensamentos chucros
araganos
Que gavionam mentes já não
são os mesmos.
Viraram pilungos de rédeas ao chão!
Até o coração tropeça mil vezes
Nos tacurus do mundo.


Mas, a alarifaça vida nos engambela,
Fazendo cismar que tudo sabemos,
Que tudo podemos além da ilusão!
Então surge o, não, castrando a razão
Embuçalando o sim.
É o começo do fim mas, nunca pra mim,
Que nasci peão!

Porém, a alma antiga, não se aquebranta
Aos tirões do laço.
Fraquejam os braços e, os olhos nublados,
afagam distâncias.
No peito as ânsias sesteiam dormidas
quais cinzas sem brasas e,
Vergam as asas dos seus pensamentos,
Voejando querências. . .

Ainda brilham teus olhos claros
alumbrando meu mundo . . .
Tão azuis profundos quais esses
Céus de outono que se derramaram.
Que nos emponcharam pelos tempos largos. . .

De um amor fecundo!
Por certo oriundo dum querer maior
Que os tempos abençoaram. . .

Ah! . . . almas antigas dos homens de antanho
E barbas de algodão.
Que envergam nas mãos os mates lavados
Das ervas caunas.
As tardes lubunas são tristes molduras
Pintadas no pago. . .
Sem esses “índios vagos” que cismam afagos
Dum tempo ilusão.

Essas almas centauras que ainda gavionam
Por campos alhures. . .
São quais as fagulhas das brasas rubras
Dos cernes de angicos.
Que lumiarão infinitos em tempos proscritos
Cruzando em tropel
Pra um dia nos céus renascerem estrelas
Esculpidas por DEUS.

CONCLUSÕES DE UM DECIMISTA SOLITÁRIO
Autor: Adão Bernardes
Intérprete: Jadir Oliveira
Amadrinhador: José Ronaldo Halfen

Solidão é se sentir,
rodeado de ninguém
é não ter quem querer bem
por quem ficar ou partir
é não ter pra quem sorrir
não ter a quem dar bom dia
levar a vida vazia
não tendo a quem dar conselho
e só sorrir ao espelho,
fingindo ter alegria.

Solidão é cevar mate,
pra matear consigo mesmo
largar pensamento a esmo
quando a saudade nos bate
travar no peito um combate
com a alma estraçalhada
sentir que é madrugada
que está clareando o dia
a cambona está vazia
e a erva está lavada.

Solidão é dialogar
sem ter interlocutor
na conversa contrapor
responder e perguntar
é ouvir sem escutar
é retornar sem ter ido
é falar sem ser ouvido
no mais completo abandono
é adormecer sem sono
e acordar sem ter dormido.

É se perder numa busca
buscando o que não perdeu
é adentrar no seu eu
onde a lembrança se ofusca
numa tentativa brusca
de libertar-se do passado
sentindo o gosto salgado
que o olhar trás na vertente
e abraçar um ser ausente
com a solidão ao seu lado.

É sair na multidão
e procurar companhia
pra ver se a melancolia
se muda do coração
e descobrir no entanto
que fechou-se o paraíso
e quem tentava um sorriso
voltou enxugando pranto.

Ter na memória o momento
em que viveu mais feliz
ver que secou a raiz
da bonança do alento
e brotou o sofrimento
da profundeza da cova
que a saudade em desova
matou o verde que tinha
igual a erva daninha
arruinando a safra nova.

Mas também um solitário
busca força na desgraça
enrijecendo a carcaça
muda seu próprio cenário
se entrinchera no calvário
numa coragem medonha
une amor-próprio, vergonha
sofrendo porém sereno
descobre o contra veneno
pra tudo quanto é peçonha.

O amargor da tristeza
ensina a alma ser dura
deixa a consciência madura
e o coração com destreza
age com mais esperteza
já vou! passa a ser “espero”
talvez, no lugar de quero!
Não se anseia se algo tarda
e aprende a baixar a guarda
só quando o amor é sincero.

É uma xucra academia
na formação do vivente
só aprova o competente
que possuir teimosia
porque a solidão judia
magoa, fere, maltrata,
nos golpeia com chibata
nos mantém enclausurado
inerte, roto, acabado
mas porém matar não mata

Quem já venceu esta etapa
com certeza teve fibra
e agora se equilibra
com a alma muito mais guapa
já é um ponto no mapa
já vive por si somente
não depende de parente
de parceria ou mulher
e se nem a morte o quiser
pode ficar pra semente.


PRANTO DO ARROIO À LAVADEIRA
Autor: Guilherme Collares
Intérprete:Patrocínio Vaz Ávila
Amadrinhador: Guilherme Collares

A correnteza é a lágrima
que choram, as pedras mouras
do porto das lavadeiras...

Murmuram, os salsos tristes,
os salmos de outras saudades
que, o tempo, fundiu ao pó...
Na branca espuma viajeira
foram levadas – pra sempre –
as penas da lavadeira...
... nesta constância do arroio,
de sempre andar e ser só...

Maria encontrou o arroio
desde muito tenra idade...
O arroio encontrou Maria
bem antes dela o achar...
...e uma vida companheira
de um encontrar-se no outro,
passou... sem ninguém notar...
Um em som e movimento...
... o outro em canto e lavar...

O arroio, como um amigo
que sabe escutar calado,
foi parceiro de alegrias...
... amparo nas agonias...
... fraterno pra todo mal...
Chorou junto com Maria,
levando soluço e lágrima
fundidos no seu caudal...

E como um terno maestro
da orquestra da natureza,
que escreve as notas na pauta
de um pentagrama de areias,
também cantou com Maria...
... no vento que agita os salsos
... no doce bico dos pássaros...
... na estridência das cigarras...
... no entrechoque das cachoeiras...

E soube ser testemunha
do romance que nasceu,
quando Maria bateu
a vida na roupa suja
de um tal Maneco Rodrigues
- um domador de mão cheia! -
E o mesmo arroio andarilho
fez-se canção de ninar...
... e berço os galhos do salso...
... pra’os filhos da lavadeira...

E a vida – como o arroio –
no seu eterno passar...
... refletiu a espuma branca
dos cabelos de Maria
no leito claro do rio...
E um rosto – cheio de rugas –
adquiriu semelhança
à erosão das barrancas
castigadas pelo estio...

E quando um dia, Maria,
deixou de vir ao arroio,
manifestou-se a agonia,
de um sofrimento incontido,
em quem cansou de calar...
Nesta constância de arroio,
de sempre andar e ser só,
o arroio pede a palavra,
pois necessita falar:

- Onde andará a lavadeira
que, durante tanto tempo,
sofreu e cantou comigo?...
... lamenta, triste e soturno,
à suprema onipotência...

- Eu sou o espelho de muitos,
mas os olhos de Maria
eram espelhos pra mim...
... se ela calava... eu calava...
... se cantava.... eu respondia...
... por onde andarás, Maria,
que não te descubro o fim?...

- O pobre salso – coitado –
por ter mais choro que o nome,
de tanto chorar, morreu!...
... resistiu a muita enchentee outras obras do destino...... mas, na perda da Maria,também, ele, se perdeu...

- Por onde andarás, Maria,
que era tão triste como eu?

- Não levo mais tuas lágrimas,
fundidas ao meu caudal...

... não mais acompanho as notas
que soltavas, rumo ao pó...

... sigo, triste, este caminho que me resguarda o destino...

... nesta constância de arroio,
de sempre andar... e ser só...


Osório - Marquês de Herval
Autor; Moisés Silveira de Menezes
Intérprete: Wilson Júnior Araújo
Amadrinhador: Paulo Melão

Quando o sol se esparge em raios
sobre coxilhas e plainos
vozes antigas renascem
pelas encostas dos cerros
pelos trevais das ladeiras.
A pampa se adorna inteira
cantos rebrotam, ressurgem
pelos setembros do pago.
O Rio Grande se levanta
retumbam cascos, tambores
formam fletes, cavaleiros
sob um sol primaveril.

Aqueles que Garibaldi
alcunhou por temerários,
homens de cargas e encargos
cavalgam sonhos de crinas
alados em quatro patas.
Vêm de longe, muito longe
das folhas vivas da história
sobre corcéis tormentosos,
que levaram a geografia
para além dos alambrados
extravasando limites
para o deleite dos poetas.

Entre a serra e o mar bravio,
estreita faixa de terra
forjada aos golpes dos ventos,
Conceição do Arroio, berço,
daquele que fez história
ao fragor dos bate-cascos.
Ergueu-se diante da pampa
uma lenda de à cavalo.
O destino abriu caminhos
para o moço ainda tenente,
lança em riste, espada em punho,
galgar postos e honrarias
sobraçando um pala “gaucho”.

Escaramuças no Prata,
lides gaúchas na estância,
pela mão sábia do pai,
a escola xucra da pampa
formadora de guerreiros.

Bem ao estilo de Anibal
de Alexandre o Macedônio,
o lendário Manuel Luis
fez do cavalo seu trono,
do campo largo um reinado,
fulgindo nos intermédios
lampejos de trovador.

Humaitá, Passo da Pátria,
sob o troar dos canhões,
terra, fogo, chumbo, sangue,
a morte bombeando solta,
vem por bala ou por espada,
às vezes ponta de lança,
um mar horrendo,convulso,
no coração da batalha.
Osório, estrela maior,
ensina ao mundo ser fácil,
pala ao ombro, bem pra trás ,
comandar homens libertos.

O gênio então aparece
na tarde de Tuiuti
arte, coragem, exemplo
fulgura em meio ao combate.
Pelo dom da ubiqüidade,
se faz ver em toda parte ,
sobranceiro comandante
sob um sombrero chileno.
Com proteção de Minerva
e Marte o deus das batalhas
vai abraçar-se à vitória,
beirando a boca da noite.

Por isso nesses setembros
quando a pampa se engalana,
farfalha a seda dos palas,
tremulam lenços, bandeiras,
colorindo as avenidas.
Manuel Luis, parece então,
à frente dos “de à cavalo “
redivivo em luz e glória.
O Rio Grande se perfila
sob clarins e galopes,
sorrisos pelas janelas
e campos se abrindo em flor.


RAZONANDO EM LA HORA DEL MATE
Autor: Moisés Silveira de Menezes
Intérprete: Valdemar Camargo
Amadrinhador: Fernando Graciolla

Cando la pampa se duerme
entre zambas y vidalas
que viven en los ocultos
del alma y de la guitarra,
callado, me pongo a pensar...
voy andando,voy andando
por caminos y senderos.
Alguen que viene buscando
desde tempranas memorias
por misterios y silencios
que son los hijos del tiempo
sembrados en la inmensidad.

Un mate amargo, una pausa,
una mirada alrededor...
insistente,una coplita
que al olvido se escapó
tamborilla en los oidos
y habita en el pensamiento
templada de campo y río.
Viene de lejos recuerdos,
lejana, si muy lejana,
herencia de un tiempo lindo...
las canciones de mi madre,
milongas del viejo abuelo.

el tiempo ya no se cansa
de siempre ir y venir
y el silencio es un misterio
que el hombre nunca entendió.
Hay silencio en toda parte,
en el murmullo del río
en la voz clara del viento,
un salmo de canto largo
tartamudeando en las ramas...
pero, a vezes no lo siente
cuando la quietud impera.

El río es un caminante
tambien un largo camino,
un relicario de imagen
que habita en lo más profundo
y vive por las orillas.
Una canción murmullante
que de andar ya no se olvida.

Sonido de água en las piedras,
de la brisa en las ramajes...
por supuesto tiene quejas
de quien sin saber escuchar,
tambien no habla con ello.

Y en las noches aquellas
que nadie sabe explicar
ni el hombre ni el poeta,
el río no corre, ni habla,
el viento, entonce, ni escucha...
el rancho es un monumento
de piedra y de soledad.
Fue la guitarra al olvido
y toda la pampa, toda
se calla desnuda y desierta...
hasta que Dios aparezca
entre los rayos del sol.

Y cuando en el plenilúnio
a dondequiera que vaya
luciernágas, luna, estrellas...
la noche es grande en luces
y hasta parece que Dios
está paseando en la tierra.
El rio es un compañero,
que sabe hablar y escuchar.
Un pajaro migratório
con melodias y hablares
silencios de muchas luces
y amores por las orillas.

Todas las noches oscuras
el campo y tambien el río,
sombras....sombras...nada más
sin sonidos sin murmullos,
ni siquiera un lucerito
por lejano y olvidado...
solamente una gran sombra.
La mano de Dios, parece,
bajando un manto en la pampa
para que todo adormezca
em la paz y en el silencio


DE RUMO E SONHOS DOS QUE ANDAM LONGE
Autor:Guilherme Collares
Intérprete: Francisco Azambuja
Amadrinhador: Guilherme Collares

E foi assim que deixei meu pago:
semeando sonhos pra colher saudades… …levando ausências de taperas nos olhos e silêncios de furnas guardados em mim…

Nos grotões da alma de quem anda longe,
os rumos perderam seu valor real…
…as léguas do ontem são tênues lampejos
refletindo dores num duro amanhã…

E os sonhos que nascem envoltos em ânsias,
transformam distâncias no pago querido;
e o trote inconstante e sem rumo do tempo
faz pausa na marcha…parece que para…
…nos muitos instantes de recuerdos vivos… …que a lonjura do meu chão semeou a
cuidado na terra lavrada dos meus
sentimentos…

E quinchei dentro d’alma um rancho
de esperas…
- santa-fé e torrão que me trouxe um destino -
…mesclando o rumo de um andar sem tino
num pensamento que restou refeito…
O tempo…no rancho transformou tapera…
Do sonho…restou somente uma
nova quimera… …contrabandeando saudades pelas fronteiras do peito…

Só quem não anda não sabe
o que a distância do pago, de mal,
lhe pode fazer:
…caminhando pela vida…”Boleadeira
sem manicla!”
…as léguas ensinam rumos…
demarcam dores…
…gastam bastos e caronas…
cansam fletes… …desmancham sonhos…
…dos que vencem as distâncias
enganando as próprias ânsias
pra tentar não mais sofrer.

E o pensamento de quem anda longe…
…Ah!…o pensamento…

…como a florzita de trevo que abre
na primavera - tão pura e simples…singela…
…tal é o exemplo que explico…
O pensamento semeia o ouvido
de berros de terneirada de chiqueiro
…na mangueira - de manhã cedo -
esperando pra mamar…
Da festa em latidos da cachorrada
de campo …esperando o pessoal pra camperear…
Dos ringidos de basto e carona… …convidando a mente a não pensar
em mais nada…
Um longo ronco de mate amadrinhando
solito as conversas de galpão, os
chiados da cambona …estalar de
fogo grande num cerne de coronilha
…dos que aquecem mais a alma que
propriamente a ossamenta…

O pensamento deslumbra os olhos
com sóis vermelhos nascendo
…coloreando uma alvorada…
Um tapete verde - em campo -
de primavera enflorada…
Uma flor de corticeira
sangrando um céu azulado…
…que uma manhã de setembro
perpetua em luz e cor num dos tantos
retratos que guardo na alma…
E a estrela Boieira vem de ponteiro
da gadaria da tropa de estrelas da noite…
…co’a égua madrinha das Três-Marias
batendo cincerro…
…e os tambeiros do Cruzeiro de sinuelo…

O pensamento relembra o gosto
do pão-de-forno - das avozinhas campeiras -
…sovados à mão e postos no forno
por alguma pá antiga…
…daquelas feitas por algum negro velho…
…do tempo da escravatura…
O pão feito a fogo e carinho…
…que já não existe mais…
…como o forno e a pá…
…muito menos as avós…

E a dura lida de tropear recuerdos
revive o ontem que se acaba em nós…
…como inútil transição que somos
do que era antes…pra um amanhã…
…que virá após?

E o pensamento revive…
…a changa bagual de correr rumos,
que já não é mais conquistadora dos meus anseios,
os quais me foram legados…passados…
…e guardados em mim.
…através dos gens dos muitos gaúchos-centauros
que formaram o que sou…

Os que cortaram o Continente de São Pedro
- afiando adagas e aquecendo o cano das garruchas -
…no tempo em que a força do braço e os pingos buenos
eram a riqueza maior dos gaúchos de lei…
…dos quais viemos…razão do que somos…
…dízimo que herdamos…
…ensinamento a passar adiante…

E a sina de andar longe se denota
num vil caminho de ásperas mazelas…
…ao coração taciturno do que deixou seu pago…
…sorvendo os dissabores da saudade…
- a cada dia…cada hora…cada instante -
…cevados num amargo de tristezas…

E de tão longe…retomo a estrada…
…rumos de mim mesmo…rastros que deixei…
…às vistas do pago que tento encontrar…
…colhendo saudades dos sonhos semeados…
…taperas nos olhos…recuerdos guardados…
…lampejos de um ontem…
…que vivo a buscar.

INÍCIO DA PÁGINA