6ª QUADRA - SETEMBRO DE 2001


1 - Á MARGEM DA BIOGRAFIA DE PEDRO, UM DOMADOR
Autor - Moisés Silveira de Menezes
Intérprete - Loresoni Barbosa
Amadrinhador – Francis Barbosa


Se é pra falar de araganos
cavalos e homens gaúchos
Pedro era o nome, recordo
pedra Pedro, inquebrantável
das estórias noite adentro
daí talvez, Pedro quebra,
campeiro por dinastia
pouca seca nenhuma queixa
a fama correndo longe,
a vida dias iguais
quebrando queixo de ariscos
por ofício e competência

Talvez ao largo entendesse
entre tombos e tirões
que os potros que amanunciava
vinham de longe no tempo
das mouras escaramuças
rebeldes filhos do vento
vinham dos fletes beduínos
seus ancestrais no deserto.
Flechas ágeis, olhos de águia
tormentas em quatro patas
redesenhando limites
nos mapas de Europa e Ásia

Num rancho frente pra o leste
na encosta sul da coxilha
vivera sonhos, verdades,
deslindes de amor e amadas.
Hoje em meandros a mente
entende à sombra do outono
que a estrada fora empedrada
por terrunhos vaticínios
convicções, crenças, credos
como fora futurado
chamando Pedro ao que vinha
naquele ocaso de tarde.

Homem sem grandes pecados
na lembrança mais recente
sem recordar ter negado
uma vez sequer ao menos
porque razão ou motivo
herdara Pedro ao destino
um viver empedernido
naquele ermo de campo.
Plata escassa e tão suada
duro labor, lida bruta
gastando o corpo no arreio
daquelas fúrias de crinas.

O tempo, senhor da vida
consome, refaz, desgasta.
Sobre pedra ergueu-se um templo
sobre Pedro pesa o tempo.
Coriscos voaram sonhos
no campo largo da ausência,
olhos ariscos na busca
daquele que tendo asas
liberou céus e pandorgas.
Desgarrado o potro novo
sumiu campo e tempo afora
virou nuvem, vento, pó.

Porém Pedro, mesmo pobre
mas Pedra que não quebrava
vinha de vales e montes
vinha do tempo de um templo
mais consistente que Pedra
lembrava Pedro, o primeiro
que mesmo tendo negado
três vezes o próprio mestre
condensou verbo e razão.
pastor de almas e homens
se fez pedra Pedro templo
caminhante, pregador.

Mas Pedro, agora, o posteiro
nenhuma voz, muito verbo
santo monge pecador
do templo xucro da estância
no intermédio das lides
entre o palheiro e o amargo
Põe-se a cismar e conclui:
- “Destino potro indomável
trovão que não coube rédeas
pavena que não se amansa
me fez pedra, Pedro quebra
peregrino e domador...”“.

2 - BREVE ROMANCE DOS DESPACHADOS
Autor - Ari Pinheiro
Intérprete - Érico Machado Bastos
Amadrinhador - Chico Saga

Quero que saibas, meu irmão de trago,
que nesta noite quase dia
compartilhas este balcão;
que esta estampa judiada
de andarilho sem rumo
é o rascunho de um passado
que o próprio tempo apagou...

- Estes cabelos mouros – acredite -
já foram asas centauras
que soas vinchas prendiam
nos dias de marcação!

- Estes braços tremelicantes
- Fiapos de nervos cansados –
já foram cernes de anjico,
garras de aço nas tesouras
das tosquias de Santana!

Repara bem parceiro,
neste tento que me serve de guaiaca,
prendendo mal e mal
este resto de bombacha...
... ele já foi parte de um laço de treze braças,
que num armadão fachudaço
jamais “encharutava”,
indo aninhar-se tranqüilo
nas aspas de um touro pampa,
destes que fazem “rosca na cola”
quando um pingo cruza o rastro
nos rodeios do Rio Grande!

E estes olhos sem brilho
que a catarata nublou,
parece mentira que foram faróis
de cruzar distâncias
e alumbar lonjuras
em tantas noites de ronda,
quando as tropas faziam estradas
nas planícies de Aceguá!

É bem verdade que cruzei fronteiras,
risquei caminhos,
Picaniei o destino
e busquei progresso...
... mas sempre para os outros!

Não tive tempo pra mim
porque na faina campeira
o suor vale muito pouco,
e o tempo sempre é contado
pelo relógio do patrão...


E assim parceiro,
quando estas pernas fraquearam
e não pude mais ginetear,
a fazenda ficou pequena
contrataram outro torena
e eu herdei o corredor...

Por algum tempo
changuiei uns pilas mirrados,
que me davam mais por pena que por paga,
gente que me vira monarca
culatreando tropas e engordando as burras
dos barões do pampa...

... depois me afundei na vida,
já sem cavalo,
(o meu morrera cedo, talvez por desgosto
de ver o dono em frangalhos)
vendi as garras por poucas patacas,
já que a mim não sobraram nem galpões
pra guardar trastes...

...da mitológica figura de centauro andante,
do laçador, ginete e tropeiro,
do cirurgião das mangueiras
que castrava por um trago de cachaça,
dele, nada mais resta...
aliás, nem sei como lembrei hoje
aquilo que fui...

Talvez a tua figura, irmão de trago,
recém chegado do campo,
tão espoliado quanto eu,
tenha acordado em meu peito
uma réstia de nostalgia...

A nós, parceiro,
resta o esquecimento dos bolichos
E a parte pobre de um cemitério
numa cruz sem inscrição...
...pois aos parias não se acendem velas,
já que a solidão não gera filhos
e nem netos pra chorar....


3 - ENTRE A ENCOSTA DO CERRO E O BEIRAL DA LAGOA
Autor - Moisés Silveira de Menezes
Intérprete - Valdemar Camargo
Amadrinhador – Cássio Ricardo


Do alto de si mesmo
senhor de si...
o cerro guarda a lagoa
que se espraia vagarosa...
entrelaçada ao vento
outras vezes se agita...
rebelada
aos gélidos açoites desse vento...

O chicotear contínuo
desse andarilho
de muitas vozes...
de tantas origens...
de outros tantos caminhos
descaminhos...
maltrata, maldiz, malversa
enruga, envelhece
o corpanzil do cerro

A lagoa refresca-lhe
o corpo judiado
espargindo-se em neblina
sobre cicatrizes e feridas.
Jogando-se inteira
em ondulantes vagas
Liberta o cerro
de inimigos vis
que lhe encurtariam a vida...

Quando a noite tolda
tudo e todos...
a luz da lua
projeta nos paredões
uma procissão de silhuetas
que fantasmagoreia
pelas sombras...

Estórias, causos, crenças
que habitam
as furnas do cerro
e os abissais da lagoa
ganhando forma e voz
pela boca dos assuntos
noite adentro
nas rondas...

Manoel Barros
clama, exclama, reclama
dói-se...
com o romance da filha
e o quarentão Inácio
não antevê futuro
não vislumbra felicidade

Se voltasse hoje
saberia da capelinha...
cidade Romance
quase Santa Margarida...

Estranhos anjos
pairando sobre o espelho d’água
prenunciam que o cerro
virá desabar...
as casas ruirão...
- é o fim...
falam bocas... ouvem ouvidos...
enxergam olhos assustados...

Um “Ness” gaudério
habita as profundezas
aterroriza passantes
pescadores
povoa pesadelos noturnos
concede asas ao imaginário...

Uma noiva
- silenciosa e meiga –
passeia entre o cerro e a lagoa
embora o tempo andado
cada vez mais bela se mostra...

Antiga... sabe de tudo...
conhece todos
comoveu-se com a outra noiva
aquela que se foi...
viu Margarida escrever o bilhete...
guarda segredos
de amores...
e outros tantos...
pelos anjos da lagoa é protegida.

Musa de poetas e cantadores
Guardiã de contos e crenças
Que alaram sonhos
E canções bonitas...
- Conceição do Arroio,
languidamente
recostada ao cerro
radiosa resplendente
refletida na lagoa...


4 - RESENHA DA SAFRA AMARGA
Autor - Luís Lopes de Souza
Intérprete - Valter Vieira Ribeiro
Amadrinhador - Adamir André Silva

Na areia da ampulheta
germina a desilusão,
se o resumo da colheita
não enche a cova da mão...

Quantas leivas emborcara...
no cambaleio esguio
de um arado despacito...
onde um pé garrão rachado
sangrava dentro da verga
sementes de sacrifício...

Quantos provérbios de pena...
com a junta de salinos
envelhecida na canga,
um dialeto irracional
mesclava homem e bicho,
confidentes ignotos
nas amargas do ofício...

Foices podavam tigüeras
galgando solais de cerros,
enxadas deitavam buvas
sobre pingos de suor,
saraquás ganhavam mãos
fecundando as searas
que, se alastravam verdolengas
nas clareiras das coivaras...

E os carrascais encardidos
no esboço do arrebol,
vestiam outros matizes
no lume carbonizante
das brasas rubras do sol...

Depois... as chuvas fugazes
eram dispersas e ausentes,
e a espiga em florescência
mais morrente que vindoura
bebia raleadas gotas
no céu ermo da lavoura...
E no semblante nublado
do terrunho semeador,
reluziam incontidas
lantejoulas cristalinas,
entre vidrilhos salgados
na inocência das retinas

Quando as mãos bebiam grãos
no manancial da colheita,
num paiol sempre vazio
sobravam manguás e cestos,
-...restolhos também sobravam...!
Nunca saciando surrões,
nem bolsos, nem apetites.
Mas, os anseios rebrotavam
na resteva da paciência,
de um eito grande de covas
com mudas de persistência...!

As safras se sucediam...
e a seqüência da labuta
jamais vergava seu braço,
como quem segue fiel
os dizeres convincentes
no rol de alguma cartilha,
com instinto e sapiência,
pra transformar os fracassos
no escasso pão pra família...

Agora, só e alquebrado...
nas mãos magras, gordos calos,
calos na alma também...
Sua Vida, foi uma Seara
desprovida de fartura,
só rendeu em abundância
desencanto e amargura...

Na areia da ampulheta
germina a desilusão,
se o resumo da colheita
não enche a cova da mão...

Mas, sempre haverá um terrunho
enraizando esperanças,
colhendo em safras de sonhos
estrelas do universo,
pra semear em boa lua
na aridez do meu verso...!


5 - QUANDO DIGO UM POEMA
Autor - Colmar Pereira Duarte
Intérprete - Cássia Machado
Amadrinhador - Cássio Ricardo

Quando digo um poema a quem me escuta,
esse poema sou eu, nessas palavras
que floresceram de mim, na minha fala.
se há espinhos e o poema cala,
a flor dos lábios – úmida, entreaberta –
é uma rosa vermelha
que resume meu silêncio e emana meu perfume

O poema sou eu... porque desperta
os pássaros canoros da ternura
que põem trinos e asas em meu canto.
Sou eu,
porque irradia da retina
a luz do meu olhar cheio de espanto
e do sol interior que me ilumina.

Sou eu... porque escondendo meus
ressábios,
no mel das rimas adoça meus lábios
e frene na emoção da minha voz .

O poema sou eu!
Pois do meu corpo
fez um templo pagão, em seu louvor;
e na frágil redoma do meu peito
um coração que ama o próprio amor.

O poema sou eu... porque me guia
pela mão,
às paragens onde os sonhos
confundem realidade e fantasia,
plasma a energia mágica
e revive
as emoções que tenho e as que tive
e dão sentido a toda essa poesia.

O poema sou eu... pois minha alma
vaga com ele muito além do corpo;
abre as janelas do meu rancho escuro;
tinge de lua meus cabelos longos,
à espera dele, pra ir campo a fora.
E em sua garupa, desafiando o tempo,
posso viver sem medo, como agora,
e de estrelas povoar meu universo.

Quando digo um Poema a quem me escuta,
o poema sou eu, doada em palavras;
o poema sou eu desfeita em versos.


6 - “HOJE É UM DIA BOM PRA SE MORRER”
Autor -Carlos Omar Villela Gomes
Intérprete – Delci Olveira
Amadrinhador – Negrinho Martins

Hoje é um dia bom pra se morrer...”

Pensou repentinamente, sentindo a alma nos olhos...
Assuntou consigo mesmo na paz da varanda antiga...
Segredou com o silêncio que lhe fazia costado.

“Hoje é um dia bom pra se morrer...”

Ruminou quieto ao balanço da cadeira
Que lembrava o trote de um cavalo manso
Recorrendo o céu de alguma sesmaria.

Levantou, mirou o dia,
Que contava histórias de um tempo velho
No murmulhar da sanga, no bailar dos pássaros,
No beijar do vento sobre as casuarinas...
Matizou de sol as pálidas retinas
E assistiu a paz lhe comover.

“Hoje é um dia bom pra se morrer...”

virou-se para a porta da morada,
Buscando o vulto da mulher amada
Que nem a morte lhe fez esquecer.


Mirou os frutos de uma vida bem passada...
Os retratos de família sobre a estante
E o sorriso da “flor” tão adorada
Que aos poucos inundou o seu semblante.


Estava ali a estância bem cuidada...
A tropilha de mouros na mangueira,
Mil cabeças de boi nas invernadas,
E um suspiro, lembrando a vez primeira
Que um filho chorou de madrugada.

A filha, moça preparando o mate,
O filho, homem, sua cara e jeito...
Um sentimento de missão cumprida
Coroando uma vida em arremate.

Eram os sonhos, sim, eternizados
Junto à saudade de quem já partiu...
Deixando amor e uma cruz plantada
Feito dois braços acenando ao rio.

“Hoje é um dia bom pra se morrer...”

Fechou os olhos num suspiro doce...

Já tem os filhos criados,
Não deve nada a ninguém...
E já provou, pela vida,
De tudo que a vida tem.

O cachorro, companheiro, de confiança,
Chega quieto e lambe a sua mão...
A alma singra mares de distância
Além do sol que incendeia a imensidão.
Sente as plumas dos anjos, revoando,
E uma canção divina ressoando
Na calmaria do seu coração.

“Hoje é um dia bom pra se morrer...”

Abriu então os olhos mansamente
E mirou, logo à sua frente,
Uma luz, que fez sua alma florescer...

“Hoje é um dia bom pra se morrer,
Mas não é o dia ideal...”
E saiu, puxando o neto num petiçote maceta...
Viver é bom, afinal !!!


7 - ESTIAGEM

Autor - Loresoni Barbosa
Intérprete - Wilson Araújo
Amadrinhador – Mário Fontoura

Nessa miséria campeira
já não dou graças a Deus,
maldigo as nuvens covardes
que vem no final das tardes
sombrear meus sonhos ateus.

A seca inundou meus olhos
ancorou a solidão,
e o sal que seca no rosto
não dá pra encher o cocho
que alheio enfeita o verão.

Troquei as contas da talha
pelas contas do rosário,
parece que nada adianta
pois quando o sol se levanta
trás lanças dentro dos olhos.

Arrendei os pensamentos
de incandescer madrugadas,
pois não me adiantam lembranças,
se o braseiro anda de luto
cambonas ficam caladas!...

Até alguns vícios miúdos
que ousavam me carregar
deixaram da minha carcaça,
O fumo a erva a cachaça,
são luxos que aqui no pago
só tem quem pode pagar.

Sim, impassível à miséria
se a estiagem se alonga,
invade o corpo e a alma,
simpatiza com a loucura,
não manda notícias boas,
nem paga conta na venda.

Há um sol a secar o pranto
e salgar minha solidão,
e uma saudade eloqüente
judiando um sonho inocente
Charqueando meu coração.

Me refiro a orfandade
que assola até meu cavalo,
pois nossa mãe natureza
nos serve o cocho e a mesa
com a seiva da tristeza
e um vazio destemperado.

Ah!...Senhor Deus, meu Pastor!
Decerto o povo do sul,
igual ao irmão do norte
dividem a mesma sorte
nos terços e ladainhas,
mas temos tão pouca fé
- para Vosso entendimento-
que às vezes penso que o vento
- por não saber de rosários –
me rouba preces e hinários
destoando canções que invento.

Senhor dos céus e dos campos
pastor de meus ancestrais,
arrebanhai estas nuvens
para inundar os açudes,
e saciar meus baguais

Pois me parecem insanas
estas nuvens desgarradas
que escravizaram meus olhos
e esvaziaram os sonhos,
pintando ausências no céu.

Eterno pintor da vida!
Tendes poder de perdão
Abri vosso coração
agitai a ventania
recolhei tuas preces de volta
devolvei minha alegria,
pois tenho a alma de luto,
e a fartura que me sobra
é a prole amparando sonhos
e a tulha quase vazia.


8 - O VISIONÁRIO E SEU DEUS
Autor - Loresoni Barbosa
Intérprete - Joel Capeletti
Amadrinhador - Henrique Scholz

Desprovido de vaidades
com a alma impregnada
de bondade e de clemência,
sai pra ver a querência
que regalastes pra mim.

Custei achar minhas preces
que mal aprendi nas rondas
e em horas de solidão,
buscando vosso perdão
- esmola que não tem fim –

Trouxe o silêncio das noites
para a quietude do abraço,
pois conheceis os meus medos,
adotastes os meus segredos,
e aliviastes meu cansaço.

Meus fardos não foram leves
nem suaves foram os calos,
mas o Vosso amor maior
pras rédeas me fez doutor
e eu amansei meus cavalos.

Semeei sonhos nas coivaras
plantei rancho e fiz mangueira,
só o coração me reclama
meio tristonho sem dona
num peito quase tapera.

Eu sinto inveja da aurora,
- perdoai meu sentimento -
quando os pássaros cantores
encantam os seus amores
num recital para o vento.

Esse vento é que me entende
e responde a sinfonia,
soprando a dança das cores
que adoçam os beija-flores
e inspiram nova poesia.

Já sou quase um visionário
encantado com teu mundo,
que recrias num segundo
quando a gente se distrai,
e lua que se vai
a desfrutar madrugadas,
é o fruto esperando geadas
para adoçar novo amor,
é o potro e o domador
jogando a mesma parada.

Ah! Senhor...
Vós que regeis o pampa
que de tudo bem sabeis,
como eu queria entender
o porquê das sesmarias,
da fome, das noites frias,
da estrada que não termina
pros irmãos que tem na sina
só esperanças pra dar,
um hino a desencantar
e um sol que pouco ilumina.

Senhor de poucos assuntos
Voz trazeis amor de sobra
pesando no coração,
olhai teu povo pagão
a desnortear as estradas,
e talvez se houver um jeito
olhai também pro meu peito
que desusado enlouquece,
pois nem em sonho aparece
quem me habita o pensamento.


9 - ESTRADAS DE VIDA E TEMPO
Autor - Sebastião Teixeira Corrêa
Intérprete - Pedro Júnior da Fontoura
Amadrinhador – Valdir Verona

Me perco, às vezes, contemplando a estrada
Que se prolonga ao rumo do infinito;
Atrás, há um rastro de ilusão passada,
Á frente, os sonhos de um viver bonito

Há um horizonte que se perde à vista,
Uma conquista, talvez impossível,
Por mais que, às vezes, a luta persista,
Sempre há um espaço para o inatingível

E quem, solito, a estradear se solta
Talvez se perca e não encontre a volta
Porque essa estrada nunca chega ao fim,

E eu que persigo os sonhos nas distâncias,
Vou, a lo largo, repontando as ânsias
Que se entropilham ao redor de mim.

Chego a pensar que as encruzilhadas
São quem definem os nossos destinos,
Não sei porque, mas sempre escolho estradas
Onde transitam só os teatinos

Encontro alguns, que trazem no semblante
Marcas profundas de desilusão;
Algumas sofridas, com destino errante,
E o amor ausente no seu coração

Existem outros, de sorriso aberto,
Que embora vaguem por caminho incerto,
Jamais se entreguem pra adversidade:

São os centauros, meio potro e gente,
Pra quem o mundo sempre é diferente
E não tem preço a sua liberdade

Há os que enveredam por estradas tortas
Onde o abismo é o fim da jornada,
Só ilusões e esperanças mortas
Vivem nos sonhos de quem busca o nada

Então pergunto: - Por que estrada eu sigo,
Na encruzilhada que me surge à frente?
Já sinto o tempo a caminhar comigo,
Seguindo aos poucos, no rumo do poente

O que eu não quero é ver chegar o fim,
E ouvir o tempo a gargalhar de mim
Por ter seguido a direção errada,

Não porque a vida já me fez covarde,
Mas chega um dia em que se torna tarde
O recomeço de uma nova estrada...


10 - ETERNA SABEDORIA
Autor- Glênio Fagundes
Intérprete - Patrocínio Vaz Ávila
Amadrinhador - Glênio Fagundes


Rufando o tambor das asas,
A garganta funda dos galos,
Brota no atavismo sonoro...
De um canto “leguero”!
Povoando sesmarias...
Sonorizando ranchos,
Galpões, potreiros...

O couro cru dos catres sonolentos,
Se “alivianaram” dos cansaços já dormidos!

A cacimba de sangue transparente,
Na bacia de louça descascada,
Apaga rastros de sono
Reacendendo a madrugada!

Na respiração dos nervos frouxos,
Resmungam as canções para encontrar a lida.
Escorado na porta do galpão,
Por trás dos olhos,
O campo, mistura recuerdos!...
E o campeiro, emoldurado
Num silêncio grande...
Cismando, bendiz seu tempo
De cruzar na vida...!

Na canhada,
Que se derrama até o campo manso das casas,
Desabrocha um sol de bronze...!
Despindo vultos de noite...
Pintando vultos de dia...

E a alma das flores xucras, aromando,
Cruza retouçando na quilina dos ventos...

O inverno, estropiado, acordou na primavera!
E do bico novo das asas livres,
Florescem canções eternas!
Nem modernas nem antigas,
Nem antigas nem modernas...
Porque é assim que a essência viva,
No dialeto das eras,
Inventa “sabedoria”
Pelos caminhos da terra!

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